Alexandre Schwarzbold

Saneamento básico e doenças

Alexandre Scwarzbold

Hoje vou me permitir quebrar um pouco o protocolo, já pedindo escusas a nossa editoria pela mudança de formatação e escolha de tema único, para reproduzir contribuição que dei à matéria da jornalista Tarima Nistal do Portal Dráuzio Varela. Versa sobre quais doenças podem ser causadas pela falta de saneamento básico. Pergunta formulada pela jornalista e que julgo ainda muito oportuna em nossa cidade.


Saneamento básico e saúde

 
A falta de saneamento básico não é uma novidade na realidade brasileira. Desde recursos colocados em prática por povos originários a fim de separar a água para consumo e locais para dejetos, passando pela construção em 1973 dos Arcos da Lapa, o primeiro aqueduto do país, até chegarmos aos sistemas de esgoto atuais, é notório que boa parte da população não consegue ter acesso aos sistemas de saneamento. Atualmente, existem no Brasil cerca de 100 milhões de brasileiros que não possuem rede de esgoto e 35 milhões sem acesso à água tratada. Uma das principais consequências desse cenário é o surgimento de doenças, algumas delas fatais, entre essa população.
De fato, de acordo com o Ministério da Saúde, em 2021 foram registradas cerca de 130 mil internações causadas pelas doenças de veiculação hídricas, ou seja, provocadas por contaminação da água. Mas quais são essas doenças e quais os riscos que a população sem acesso ao saneamento básico corre em relação a sua saúde?


Principais doenças

 
Segundo Cláudia Maruyama, Infectologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, as principais doenças causadas pela falta de saneamento básico são: doenças diarreicas por Escherichia coli, hepatite A, cólera, leptospirose, febre tifoide, verminoses, giardíase, amebíase, dengue, chikungunya e contaminação por metais pesados como mercúrio.
Explico em maior detalhe a ocorrência da leptospirose. Trata-se de uma bactéria que é transmitida a partir do contato com a urina dos ratos. Nesses lugares onde não há saneamento a água entra em contato com a urina dos roedores que contaminada pela bactéria leptospira pode ser transmitida aos humanos. Essa contaminação da água com a urina se dá principalmente depois de enchentes e períodos de chuvas, e acaba aumentando a chance de infectar pessoas.
É importante lembrar que a diarreia ainda é uma causa importante de mortalidade, principalmente entre crianças. Dados de 2018 do Ministério da Saúde mostram que houve quase 80 mil internações causadas por diarreia, e que as regiões com maior mortalidade são o Nordeste e o Norte do país.


Em busca de soluções para a falta de saneamento

 
Marcelo de Carvalho Ramos, médico infectologista e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que retornou recentemente de um projeto da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) após ter atuado durante seis meses na província de Nampula, em Moçambique, explica quais são as bases necessárias para melhorar a situação de pessoas que vivem com essa precariedade. “É necessário avaliar outros aspectos sociais de convívio e de hábitos da população para estabelecer uma relação de confiança. É esse o ponto de partida para que se possa fazer uma intervenção produtiva, em qualquer tipo de comunidade, seja de moradores de rua, de comunidades periféricas ou de povos da zona rural.”
Existe medidas simples a serem implementadas enquanto as soluções mais complexas não podem ser estabelecidas. Em algumas comunidades periféricas, por exemplo, o destino dos dejetos acaba sendo um córrego ou riacho que passa ao lado. Pode-se implementar um reservatório de tratamento de fezes nesse local.
“Esse tipo de ação pode acontecer antes da construção de algo mais efetivo, como uma estação de tratamento e do acesso à água encanada. A construção desses artifícios junto à comunidade é essencial para melhorar a qualidade de vida dessas pessoas”.


 

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